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segunda-feira, 12 de maio de 2014

Dia internacional do enfermeiro

Bom dia blogamigos!

Para quem não sabe hoje comemora-se o dia internacional do enfermeiro!

Pois é, para alguns é apenas mais um dia como qualquer outro, mas para nós enfermeiros é de alguma forma ver reconhecido o nosso esforço, o nosso cuidar, as nossas vivências e lutas diárias. Quando digo lutas diárias não me refiro a problemas salariais... mas a muito mais que isso...
Para quem nunca necessitou dos nossos cuidados, nunca teve nenhum familiar hospitalizado ou de forma alguma teve contacto com a nossa realidade, ouve-se muitas vezes dizer que somos ajudantes de médicos, somos simples funcionários públicos, somos recalcados porque de certeza que somos enfermeiros porque não conseguimos chegar a médicos. Pois bem, a todas essas pessoas eu perdoo a sua ignorância e convido a passar um dia nos nossos sapatos, até porque sim, também possuímos uma licenciatura de 4 anos, com todas aquelas cadeiras como anatomia, fisiologia, farmacologia...etc. (só para quem tinha dúvidas)...

Muitas vezes as pessoas esquecem-se que somos seres humanos, com sentimentos, também somos feitos de carne e osso, também choramos, também sangramos, também vivemos fora do hospital, também estamos do outro lado, também temos familia, mas também só temos duas mãos, duas pernas, dois pés e um coração muitas vezes camuflado com mecanismos de coping para que o dia a dia não nos leve a alegria de cuidar quem precisa e a dignidade que damos a quem já partiu.
Trabalhamos todos os dias, quer seja fim de semana, Páscoa, Natal, fim de ano, feriado, dia do trabalhador, o que seja... passamos noites a fio fora de casa, deixamos a familia para ter que cuidar de quem precisa... somos muito mais do que simples ''lava rabos'', senhores das picas, e traidores porque não queremos ajudar quando damos a prioridade verde. Somos muitas vezes mães, pais, filhos, netos, ouvintes, ombros para chorar, ou simplesmente a companhia necessária as 4 horas da manhã porque se vive sozinho numa casa sem condições, vemos a vida e a morte todos os dias, em jovens, em idosos, em lutas justas ou acidentes irresponsáveis...
Se um sem abrigo aparece tentamos arranjar roupa, uma refeição, o calor de um banho quente, tratamos de feridas, damos conselhos, esclarecemos duvidas, somos o elo de ligação porque falar com o médico parece ser pecado para alguns doentes e familiares, damos conforto, acionamos os serviços sociais se existe alguma situação de risco, abandono, negligencia, ou simplesmente porque o cãozinho ficou em casa sem ninguém durante o internamento, tentamos que aquela ou outra situação mais grave sejam rapidamente tratadas mas muitas vezes somos nós, enfermeiros, que levamos por tabela da frustração de doentes, familiares, indigentes, etilizados, agressores e desorientados... somos apelidados de cruéis porque este ou aquele velhote tem as mãos presas e isso não se admite, mas esquecem-se que se ele as tiver soltas, vai bater em alguém, levantar-se, cair, partir a cabeça ou mais ainda... somos cruéis porque não damos de comer nem beber a alguém, mas esquecem-se que se comerem já não podem fazer este ou aquele exame que já estão a espera há tantas horas... somos cruéis porque não damos a medicação correta de casa quando isso é tudo prescrição médica... somos cruéis muitas vezes porque sim! No entanto, quando olhamos para o velhote de mão atadas, vemos muito mais que isso, avaliamos se continua com boa circulação sanguínea e se não está a fazer nenhuma ferida, no doente que não come, avaliamos se tem uma boa glicémia e asseguramos que tem um soro adequado, e mesmo quando a medicação possa não ser a correta, avaliamos a tensão arterial, a pulsação, ... a orientação do doente e sim também avaliamos resultados de análises entre outras coisas e conseguimos perceber se realmente é emergente a mudança da terapêutica.
Mas a verdade é que numa situação de vida ou de morte é o enfermeiro que salta para cima do doente e começa manobras de reanimação... Numa situação de agonia perto da morte é o enfermeiro o primeiro a pedir que se prescreva medicação para as dores para uma morte com menos sofrimento possível... Numa situação de risco de vida é o enfermeiro o primeiro a colocar oxigénio, fazer muitas vezes terapêutica emergente e só depois chama o médico para completar prescrições...
Podia continuar a enumerar atuações e episódios em que o enfermeiro atua sem mais ninguém de retaguarda... somos nós que lá estamos mesmo ao lado, 24 sobre 24 horas por dia, que sabemos quem está de diarreia e vai precisar de mais sódio e potássio, ou quem não anda a beber água nenhuma e vai precisar de soro hipossalino.... são milhentas as situações em que sim, somos nós enfermeiros, que chamamos o médico à atenção para esta ou aquela prescrição porque pode já não estar correta, ou estar mesmo a fazer regredir o quadro do doente... sim somos nós enfermeiros, aqueles que não sabem nada, aqueles que não têm sentimentos, aqueles que não chegaram a médicos porque são burros ou o que seja... 
Pois mas quem é o enfermeiro que nunca chorou a morte de um doente? Quem é o enfermeiro que não veio a pensar para casa se aquele doente estará melhor? Quem é o enfermeiro que não fica frustrado quando se fez de tudo e mesmo assim se perde um doente? Quem é o enfermeiro que não se alegra com pequenos milagres nos nossos doentes apelidados de ''ordem de não reanimar''? Pois não conheço nenhum!!!
Não digo com isto que somos seres perfeitos, longe disso... em todas as profissões há bons e maus profissionais, há boas e más pessoas... mas da próxima vez que se cruzaram com um enfermeiro, lembrem-se disto e tratem-no com o devido respeito...
 ... e já agora, ''puxando a brasa à nossa sardinha'', mas com o devido respeito por quem tem esta profissão, digam lá se é justo ganharmos o mesmo que um capataz de obras?!?!?!?!




 
 
 
Espero que tenham gostado e...
 ...até amanhã ;) 

2 comentários:

  1. Olá Filipa!

    Enquanto estudante de enfermagem (2ª licenciatura) quero dar-lhe os parabéns pela forma como expôs a profissão de enfermagem e as tarefas que os enfermeiros desempenham.

    Quero também dar-lhe os parabéns pelo blogue! Sou uma apaixonada por decoração e apesar de ter descoberto o blogue "por acaso" gostei muito e vou seguir :)

    Beijinhos

    JM

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    Respostas
    1. Bom dia Joana, desde já agradeço o comentário e dou os parabéns pelo facto de ter escolhido tão nobre profissão, apesar de todas as lutas e dificuldades que vivemos no dia a dia. Alguns diriam loucos, mas a verdade é que poucos são os que conseguem enveredar por esta área.
      Espero que goste do blog e que mantenha as visitas :)

      Beijinhos,

      Filipa

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